segunda-feira, 29 de março de 2010

Sobre as pessoas.

6h40 da manhã, o despertador toca. Antes de me mexer tento espantar o sono dos olhos, para então poder abri-los. É segunda-feira, e tenho que me preparar para uma manhã cheia de Sociologia e do sotaque do professor Tomás, Tomassito, como os alunos gostam de chamá-lo, com seus oclinhos quadrados e jeito manso de falar.
Na cama ao lado da minha dorme ela, menina que me acolheu e me ajudou desde a primeira vez que a vi. Somos muito diferentes, somos muito iguais.
Fora do quarto, a casa já se movimenta. É com elas que convivo e conviverei por, no mínimo, mais um ano. Meninas que tem histórias que ainda desconheço, algumas, aos poucos, vão se revelando em conversas de fim de tarde, sentadas na mesa do almoço, ou nos 20 minutos de caminhada, de casa até a faculdade. Apesar de conhecê-las muito pouco, sei que todas tem um bom coração, se respeitam nas diferenças, me respeitam nas diferenças, e tem alguma coisa de cativante que vai nos sorrisos e resmungos de "bom dia" que saem de suas bocas sonolentas.
Na caminhada lenta e ainda preguiçosa, me deparo com alguns rostos sorridentes, alguns tímidos e uns tantos indiferentes. Vão todos para o mesmo lugar que eu, e me sinto um pouco assustada ao pensar no quão diferentes somos nós, cada um carregando em si histórias e momentos inimagináveis pelos outros, quão destintos são os nossos objetivos, ideais e medos, que, no entanto, caminham lado a lado sob o sol escaldante da manhã de Assis.
A sala de aula é um lugar fresco, procuro sentar na frente porque atrás não consigo enxergar a lousa. Vejo uma menina, duas, três, vejo uma porção de meninas que são maioria desleal em comparação com a quantidade de garotos tímidos que se espalham pela sala pequena.
Durante a aula, brinco de prestar atenção na expressão de cada um. Queria saber desenhar rostos. Uns na mais completa concentração, outros sonolentos, e outros tão distantes que talvez já tenham deixado a Terra do Nunca há tempos.
Pelo prédio de psicologia vejo todo o tipo de gente, vejo aquela menina que me desperta uma compaixão imensa, aquela que desde que conheci tenho vontade de ajudar, mas não sei como fazê-lo. Ela brinca com Freud, o gatinho vira-lata dentre os milhares que tem pelo campos da UNESP, que o pessoal de psico carinhosamente adotou.
Vejo o garoto que no primeiro dia perguntou se eu queria um padrinho, e desde então tem me emprestado seus livros e seu ombro nas horas de fraqueza.
Na hora do almoço a fila do Restaruante Universitário (o tão famoso RU) é gigantesca. A maioria dos que saem da aula procuram algum conhecido dentre os rostos que já estão na fila.
Almoçar no RU é uma das minhas partes favoritas do dia. Brinco de adivinhar quem é de que curso, e isso é um bocado divertido.

Pessoas, pessoas, pessoas, pessoas. Milhares delas todos os dias, o dia todo.
Assis é uma cidade em que se é impossível estar sozinha. Moro com mais cinco meninas, estudo com mais 42, almoço com mais tantas dezenas e sempre encontro alguém na rua que conheci em alguma festa da UNESP, manifestação, ou coisa que o valha.
No entanto, ao fechar os olhos, sei que estou só. Não porque são pessoas ruins, ou chatas, ou nada disso, ao contrário. Eu não sei. Ainda não as conheço, e até conhecê-las, estou fadada a essa estranha solidão que é a de quem está rodeada de gente nova, e tem tudo acontecendo rápido demais.
Não estou reclamando, isso quase nunca é ruim, é importante e tem me feito amadurecer assustadoramente, mas âs vezes o sorriso de pessoas amadas faz falta...

A volta pra casa é ainda mais difícil, o calor é insuportável e cada passo é dado com pesar. Ao chegar, jogo a bolsa em um canto, me esparramo no sofá, escuto as garotas do apasrtamento de cima gargalharem por alguma bobagem. São ótimas pessoas, boas meninas.
Tenho fome, mas a preguiça é maior. Os olhos fecham lentamente e antes que eu preceba, estou a olhar pra dentro de mim mesma.
Para eles, para todos eles com quem trombo em meu dia-a-dia, eu também sou só mais uma pessoa.

5 comentários:

  1. Eu comecei a chorar e então lembrei que terei o seu abraço hoje. Eu TEREI O SEU ABRAÇO HOJE.
    Então eu chorei mais ainda e agora de alegria..
    Que saudade, meu urso, que saudade.
    E não se sinta sozinha, você está sempre comigo, de verdade.

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  2. cada texto, a mesma sensacao de orgulho, orgulho de mim haha que falei que vc deveria escrever um blog e vc dizia que nao escrevia bem, hahahahah, tenho que rir, rir muito da sua modestia minha menina, depois orgulho de mim ao dizer que vc passaria na federal e vc disse que nao era capaz, hahahah, rio de novo da sua modestia, já joguei isso na sua cara várias vezes antes, mas sempre acho divertido jogar de novo, falarei isso para o todo sempre okay? acostumesse! ^^

    suas aventuras e conclusões sobre Assis estão altura das minhas na Holanda, e como estão. Brasil é um pais, Holanda outro, e a vida vive nos dois, com mesma intensidade, genialidade e tudo isso, se assim pensarmos, se assim quisermos, sao apenas cenarios diferentes, diferencas culturais, e no seu caso muitas culturas, tantas pessoas.

    O final do texto é um dos mais geniais que escreveu até hoje, fiquei mesmo orgulhosa, dessa vez de você mesmo hahaha

    Nao ganhei um abraco seu hoje, mas todos os da memória ainda surtem muito efeito e lembro deles todo dia.

    Continua se cuidando ae e nunca se esqueca, para mim voce não é apenas mais uma pessoa, pra mim vc é uma DAS pessoas que fazem minha vida ser bela, muito bela.

    te amo e a té logo.

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  3. Eu acompanhava a Jenny, por conta da Lorena, mesmo sem me manifestar. Simpatica a casa nova de vcs, e eu to querendo visitar sempre. Eu tb sou uma menina que saiu de casa nao faz mto tempo, dai acho que as sensaçoes nao poderiam ser mto diferentes, parece que estou lendo alguns pensamentos que a minha alma poetica, mto bem escondida ha alguns anos, sonha. O meu cantinho nao é mto pensado, é mais como se eu tivesse comentando com uma amiga (eu queria que fosse uma melhor amiga, mas a gente nao pode publicar todas as besteiras que faz, neh?!) as minhas trapalhadas na França. Vcs stao convidadas pra um cafezinho. boa sorte pra vcs!

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  4. Jac !! Eu leio o seu blog, vc mora em Nantes nao ?? Eu gosto, mas tb nuna me manifestei hehe
    Comment otimo, obrigada de coracao.
    Um Beijao

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  5. parece que voam borboletas envolta do que escreve...e vc descreveu o que a maioria sente quando se muda, mas provavelmente de uma forma que poucos conseguiriam ou gostariam de expressar...tao delicado!tao sutil!a vida parece um pouco mais clara com as suas palavras, até mesmo falando sobre solidão...admiro muito a forma como enxerga os detalhes da vida, pois tornam-se mais que meros detalhes e isso faz dela mais bonita e leve de se viver..!!
    Até a próxima minha cara!=)

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