sexta-feira, 26 de março de 2010

.vivendo cenas de um filme europeu.

A vida é um filme, um filme é a vida, e aqui na Holanda, a minha vai seguindo em um cenário europeu.

CENA 1

Trajeto de bicicleta até os campos de hockey, levo as meninas lá todas tercas e quartas, pedalando a bicicleta com a caixa na frente. Indo pra lá passo por uma aréa onde tem um centro de atividades para deficientes fisicos e mentais e muitas vezes os vejo pedalando bicicletas especiais, caminhando com supervisao de enfermeiros, sentados na grama tomando os primeiros raios de sol da primavera que chega. Tem um senhor, negro, de uns 40 anos que frequentemente passa por nós, no sentido contrário, ele sempre passa sorrindo muito pra gente e fala alguma coisa que eu nao posso entender, uma vez o cruzamos na ida e na volta, e ele sorriu e falou com a gente nas duas vezes, ele me intriga.

CENA 2

Hora do almoco com a família em um domingo, o pseudo almoco deles aqui composto por pão, frios e nutella. Estavam completando dez anos de casamento e comecaram a ler os cartões de felicitacões mandados pelos familiares, em um deles, a mãe comeca a chorar muito, a menina mais nova chora junto sem entender muita coisa, o choro nao era apenas de emocão, existia uma tristeza por trás dele. Na noite anterior, do meu quarto, ouvi alguém chorando pela casa e não era nenhuma das criancas.

CENA 3

Pedalando de Nootdorp a Delft. Atravesso rodovias, sigo em longas avenidas, espero pontes baixarem, avisto moinhos de vento em meio a modernidade, atravesso uma outra avenida, entro em uma rua estreita e de repente a atmosfera muda completamente, me sinto dentro de um filme medieval, um centro histórico do velho mundo, logo em seguida canais e igrejas de torres tombadas, posso ter flashbacks imaginários de dias que nunca vivi e vejo Vermeer a caminhar pelas ruas da cidadezinha a carregar pinceis e telas de pintura, pensando na moça com brinco de pérolas.

CENA 4


Pedalando sob uma forte chuva nas noites holandesas, encontro-me com uma amiga depois de algumas ruas e travessias, ela usava uma capa de chuva vermelha e pedalando sua bicicleta a minha frente, me fez lembrar muito do filme E.T e comecei a rir compulsivamente, as duas já completamente molhadas de chuva. Pedalamos por 30 minutos até uma festa em Den Haag, na festa tinha gente de todo lugar do mundo com profissoes excentricas, tais como um menino colombiano que trabalhava com autistas e me contou, enquanto dancavamos salsa, que frequentemente apanha deles, uma canadense da região de Quebec que faz parte de uma organizacào das leis para armas de fogo, um menino de Luxemburgo que é membro do partido de esquerda de Luxemburbo, um país do tamanho de Sao Bernardo do Campo e um noruegues que veio pra Holanda fazer servico de envio de mensagens por bicicleta. Dormimos na casa onde aconteceu a festa e meu celular caiu no vaso sanitário.

CENA 5

Tomando café da manhã com a faxineira da casa, egipsia, muculmana, após nove anos de imigracão na Holanda conseguiu se naturalizar, gosta de conversar e mistura holandes com inglês. Tem duas filhas que desde tao jovens decidem que não irão usar o veu e ela respeita, ela me relata que detesta o marido e o casamento foi forcado pela família, o grande amor de sua vida, Mohamed, foi o primeiro namorado, ela desmaiou quando o beijou pela primeira e ultima ve e nunca o esqueceu, pretende reve-lo quando viajar para o Egito nesse verão.

CENA 6

Dia sem aula para a menina mais nova, decido leva-la a um tour por todos playgrounds da região, fomos de bicicleta, ela carregou a bolsa com nossos lanches e o Nine, seu companheiro inseparável, um coelhinho de pano com pernas vermelhas e bracos amarelos. O último playground tinha chão de areia, fazia um sol lindo e temperatura agradável, tinha um brinquedo que nos permitia sentar em um suporte de borracha atrelado a uma corda que deslizava por um cabo de aco, passamos muito tempo brincando naquilo, e a maior aventura foi irmos juntas, ela sentada no meu colo, fomos gritando muito alto. Nesse momento apenas podia pensar na franse 'Let the wild rumpus start.'

CENA 7

Em um fim de tarde, depois de um dia nublado, o sol decidi aparecer, de repente sem aviso comeca a chover, os raios de sol refletem nas gotas de chuva que ficam com aspecto dourado, as meninas chegam com o pai e estão felizes e comemorativas com o buraco que abriram no chão do quase pronto jardim para instalarem uma grande cama elástica, o pai brinca com as garotas, finge que vai joga-las no buraco, elas riem muito, eu a mãe observamos tudo do lado interior da casa através da porta de vidro, ao voltar pro meu quarto, da minha janela, avisto de surpresa no céu um arco-iris definido, sorrio intensamente.






Fim do filme desse primeiro mês de Holanda


Obs: assim como em um filme de verdade, esse tambem sofreu cortes de cenas :)

2 comentários:

  1. Ai Jenn, ler os seus textos me dá uma vontade de escrever! Ao mesmo tempo me dá aquela certa insegurança de "Minha nossa, como escrever algo a altura???" Suas aventuras na Holanda certamenta darão um filme que quando voce voltar, eu a ferdi e voce gravaremos no quarto-secreto da sua casa :)

    Amo voce, mutcho!!
    OBS: e a maior aventura foi irmos juntas, ela sentada no meu colo, fomos gritando muito alto. Nesse momento apenas podia pensar na franse 'Let the wild rumpus start.'
    Eu não sei porque, mas esse trecho em especial me deixou muito emocionada. Por momentos breves pude ouvir voce gritando e gargalhando com ela...

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  2. São 2 da manhã e me pego rindo com a sua aventura do celular ... tinha que ser o Chaves de novo, hahahaha !!! Mais uma vez adorei ... bisous !!

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