quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cenas de Bruxelas

Continuo rodando meu filme europeu, e dessa vez chamei o diretor, que ainda prefere se manter anônimo he, a rodar nas ruas de Bruxelas, nosso orcamento é baixo e Bruxelas é perto e barata, por sorte, pois se revelou como um lugar perfeito para novas cenas, cenas que estão agora tão vivas na memória e fazendo muito bem . Antes vejamos a ficha técnica desses dias de filmagem. :)

Ficha Técnica

Local : Bruxelas - Belgica
Personagens : Jenny (eu :), Seb (o host couchsurfer), Vanessa (namorada do Seb), Simon ( o host irmão da amiga da amiga), Charlote (namorada do Simon), alem de inumeros coadjuvantes, participacões anônimas especiais e figurantes.
Trilhas sonora : Radiohead (todo o album OK Computer), Bjork, Monbojó, Karen O and the Kids, Smashing Pumpkins e Deftones.
Locacões em Bruxelas : Annessens, casa do Seb e Vanessa, muitas ruas do centro, Grand Place,  Cinemateca, casa da irmã da Vanessa, Atomium, exposicão Frida Khalo no Bozar, feira de antiguidades do Marolles, museu da cidade, Merode, casa de Simon e Charlote, fundacão Jacques Brel e diversas estacões de metro.

Cenas

1. Chegando em Bruxelas me sentindo no Paquistão

Desci na estacão Annessens, a casa do primeiro host ficava lá, a missão então era encontrar a habitacão, mas antes fui observando a peculiaridade desse bairro no centro da cidade. Era impossível não observar, eram tantos muculmanos de toda parte, turquia, marrocos e todo, todos com suas vestes tipicas, conversando, descontraindo nas ruas 'bruxelanas'. Inumeras lojas apinhadas de tunicas, alcorões, tapetes e tudo que um muculmano precisa pra ser feliz, além de muitos restaurantes especializados nas iguarias de todos esses países terminados em ão. Depois de me perder algumas vezes, conseguir me comunicar com as pessoas com meu francês possível, encontrei a casa do Seb e da Vanessa, os protagonistas da próxima cena.

2. Seb e Vanessa

Seb e Vanessa moram em um prédio antigo, na rua Niewland/Terre Neuve em Annessens. Um apartamento espacacoso com uma decoracão ímpar composta por fragmentos de suas viagens pela India, Equador e mais muitos lugares, fotos antigas compradas na feira de antiquidades mais excêntrica que vi na vida. Seb, no momento sem trabalho e Vanessa, designer gráfica, cantora e compositora, cantou pra mim uma de suas cancões em um fim de tarde e eu quase chorei de alegria, ela sentia a música, e cantava de olhos cerrados, foi muito bonito.
Foram quase 48 horas ao lado deles, e infinitas conversas sobre as coisas da vida, nao ficamos em silêncio nem uma vez, e por vezes nos atropelavamos na fala, queriamos expressar tantas coisas, tantas histórias e diferencas, assim como as similaridades diversas.


3. Jantar Flamengo

Vanessa  e Seb são belgas de Bruxelas, com origem flamenga, pois, para quem nao sabe, a Belgica é um pais bilingue, na região ao norte, Flandres, se fala flamengo, uma variacão da língua holandesa, e na região ao Sul, Valonia, se fala francês e em Bruxelas acontece a mistura de falantes dos dois idiomas, logo Vanessa e Seb sao belgas de Bruxelas com suas raízes em Flandres e voilá, falam flamengo. Eu acho bem complicado tudo isso e ao mesmo tempo extremamente fascinante, morar em uma cidade declaradamente bilingue e tudo isso.
Os dois então me convidaram para um jantar de família na primeira noite em Bruxelas, seria bom se eles fossem de Valonia, ao menos entenderia beeem mais do que conversavam, o meu professor de francês estaria orgulhoso de mim hehe, mas não, falavam flamengo, que soa muito mais fluído que holandes mas mesmo assim eu nao entendo nada alem de "legal e gostoso", mas isso não foi problema, a receptividade belga ainda me deixa meio sem palavras, todos conversaram comigo, todos perguntaram coisas de forma animada, e mais, de forma realmente interessada, eu me diverti um bocado, ri bastante, era a parte mais jovem da família, só os primos, alguns já com filhos, e  filhos engracados, sem tantas regras como as criancas da Holanda, eram quase meia noite e o mais novinho ainda ria e brincava e fazia todo mundo rir, até mesmo a mim que não sabia ao certo do que ele falava. Não comemos nem bebemos nada flamengo no entanto, saboreamos muitos pratos de lasanha e tacas de vinho. Do que não reclamo nem um pouco. :)


4. Feira de antiquidades mais excêntrica do mundo

Em meu segundo dia, no sabado, Seb e Vanessa me convidaram a ir em um bairro pouco turistico, onde em tempos remotos, havia sido o local onde todos os doentes da cidade eram mantidos. Em uma praca desse bairro rola diariamente uma feira muito excêntrica de antiquidades, mas nao só antiquidades, é uma feira de tudo, de tudo mesmo, eu nunca vi nada igual na vida. Tubos de ensaio, quadros e fotos de gente muito, muito antiga, brinquedos dos anos 80, vinis de todo tipo de artista, pinturas, mascaras africanas, calcados, chapeis coco, roupas intimas, e pasmem, até moedas do império romano, por apenas 3 euros você pode leva-las pra casa, eu achei genial isso, fiquei vidrada e assustada algumas vezes, tinha coisa muito, muito bizarra lá, além de muita coisa quebrada e bem suja, mas tudo isso fazia ela se tornar a feira mais singular que já estive.
Pra completar na volta encontrei um acougue brasileiro, e os donos sao de Minas, adorei poder falar portugues e ouvir, ainda mais sotaque mineiro, meu favorito. E na porta, um moco goiano vendia salgados brazucas, me esbaldei, e fiz os belgas saborearem também, é claro. Sinto que é minha obrigacão mostras pra esses europeus o que é ser feliz de verdade gastronomicamente falando. :)

5. Estatuas freaks e turistas bocós

Ainda não me conformei com a tal Manneken Pis, a estatua de um meninote mijando e ponto. Eu não vi a razão de tanta euforia e tantos turistas se acotuvelando pra tirar uma fotinha ao lado daquela estatua sem graca. Turista é turista, seja ao lado do Cristo Redentor no Rio, seja ao lado de uma pequena estatua de um menino mijando, vai ser sempre a mesma coisa. Se tem uma coisa que eu detesto é turista, embora eu me enquadre nessa categoria, e além de tantas coisas que fizeram amar Bruxelas, o fato da cidade rir dos turistas me fez ter ainda mais simpatia por ela, primeiro com essa estatua que faz todo mundo parar e tirar fotos a qualquer horário do dia, segundo com uma outra estatua que alguem um dia disse pra tirar sarro de algum bocó que esfregar a perna dela dava sorte, e lá está, todo tempo, algum turista polindo for free a perna da estatua, mas engracado mesmo foi a estatua do Van Gogh , tem uma estatua de verdade do pintor holandes em uma das ruas do centro, e um moco do lado que imita a estátua e ganha uns trocados com isso, uma hora eu passei lá, o moco imitador da estátua tinha saido, sei lá, pra ir ao banheiro, e as pessoas estavam dando moedas pra estátua verdadeira achando que ela era de mentira e boquiabertos com a precisao do artista, haha ahhh, no fim, eu adoro turistas.
Ah e detalhe, trocam a roupa do menino com incontinencia urinária em datas especificas do ano e a gente pode ver todos os modelitos dele no museu da cidade, além de um video mostrando a euforia de muitos turistas na década de ointenta ao lado dele. Impagável.

6. Atomium e a chuva de granizo assustadora

Fui ao Atomium, a torre Eiffell dos belgas, uma estrutura enorme composta por bolas gigantes com superficie refletora. Estava lotado, a fila pra subir dava voltas, e o preco do ingresso nada convidativo, ainda mais com tempo cinzento que fazia, decidi nao subir e tambem nao tirei fotos, minha camêra fotografica havia quebrado na noite anterior, mas de verdade, nao me abalei por isso. O Atomium é mais um evento imposto pelos guias turisticos que nao é tão legal assim, se você se questiona um pouquinho, tem coisa muito mais interessante de se ver em Bruxelas, fato.
Na volta comecou a chover, mas quase não me molhei, não porque tinha guarda-chuva, não tinha, mas sim porque a chuva era composta quase que 70% por pedras de granizo, no comeco estava bem divertido, aquelas pedrinhas brancas caindo sobre minha cabeca, mas de repente ficou forte demais e passou a machucar um bocado, então comecei a correr que nem uma maluca da chuva de pedras assassinas, exagero, mas corri e no fim me diverti aos montes com isso. he

7 Grand Place

Está aí um lugar que merece ser visitado, quantas vezes for possível, cheguei lá ao acaso, e me senti transpondo, sei lá, uma barreira mágica, entrando em outro mundo, um mundo paralelo. No meio não tem nada, apenas paralelepipedos e nas laterais inumeros restaurantes, cafés e prédios medievais com detalhes em ouro e muitas ruinhas estreitas levando as pessoas para diferentes pontos da cidade. De um lado está, me contaram, o café-restaurante onde Marx escreveu boa parte de O Manifesto, arrepio, eu nem sou comunista nem nada, mas sempre me pego imaginando esses momentos, um senhor barbudo (tenho a impressão de que Marx nasceu velho e barbudo haha) escrevendo um livro que seria assunto por muitas e muitas decadas, influenciando tanto na vida de tantos jovens revolucionários estudantes da Usp com casa na praia de Guaruja. Enfim, um acontecimento e tanto.
Até o som da Grand Plae é distinto, é bom  ficar rodopiando lentamente lá, ouvindo as tantas línguas faladas ao redor, ou algum musico de rua, coisa corriqueira e supimpa das ruas de Bruxelas.
Um salve aos musicos de rua.

8. Cinemateca e os filmes sonhos

Quem me conhece sabe que eu sou apaixonada por cinema, ainda um bocado ignorante, mas sinceramente apaixonada, e é claro, quando cheguei em Bruxelas já sabia que a cinemateca de lá tinha o maior arquivo de filmes de todo o mundo e não ia mesmo deixar de ir, mas acabei encontrando a cinemateca ao acaso, antes mesmo de procurar por ela e me apaixonei logo no primeiro instante, eu poderia passar muitos dias em Bruxelas dentro daquele prédio, sem me entediar, sem nada.
Primeiro eles tem um pequeno museu logo depois da entrada, com quinetoscopios e diversas engenhocas que ilustram a evolucão da fotografia até chegar ao filme, é interativo e mais; gratuito. Tem uma saleta lá que fica passando filme o tempo todo, livros e computadores com trocentos videos genialissimos, eu mesma, em um minutinho que parei lá, antes de uma sessão, encontrei um video sobre o personagem alter-ego do Truffaut, Antoine Doinel e me esbaldei, é claro, era tão rico em detalhes e fotos e passagens, morri.
E pra completar a genialidade da cinemateca, eles passam diversos filmes diariamente por apenas 3 euros a sessão, e eu assisti dois em apenas um dia, tinha que aproveitar, o primeiro foi um chatão, Medeia do Pasolini (italiano com legendas em frances e holandes haha) e o segundo um bom pra burro, na verdade uma sequência de animacões, acho que dos anos 60, do 'Bratislav Something' he, eram animacões lindas, como sonhos, eu me senti sonhando de verdade.
Cinemateca de Bruxelas pra vida.
Queria tanto meus amigos apaixonados como eu lá comigo no entanto, ísso fez uma puta falta.

Alem da Cinemateca Bruxelas tem outros cinemas alternativos bacanas a valer, mais um motivo pelo qual a cidade me conquistou master.

9. Frida Kahlo, em seu mundo

Eu dei sorte, a exposicão 'Frida Kahlo em seu mundo' está em Bruxelas até dia 18, depois vai se mudar pra Berlin, eu dei sorte de novo, consegui, apesar da demanda incrivelmente alta, um ingresso para ver a expo as 19h no domingo, e só podia ficar uma hora, pra não lotar muito, exposicão com hora marcada é novidade pra mim, mas faz sentido.
Era uma expo de montagem extremamente simples, ficou claro que o foco eram de fato as obras da artista, iluminacão baixa e no final uma sequencia de muitas fotos de sua vida, ao lado de amigos, ao lado do marido Diego, no hospital e todo.
Eu confesso que chorei na exposicão, ver os quadros que conheci atráves do filme, ler a historia, analisar a emocão empregada nas pinceladas, as fotos, os quadros, a historia, as frases...lágrimas. Admiro a Frida incondicionalmente, e lá, lembrei-me muito do meu amigo Rafael, que me deu o filme Frida de presente em minha festa de até logo, ele podia estar lá, bem que podia.

9. 'Eu amo os Belgas' me disse Jacques Brel

 Amigos franceses me apresentaram ao Jacques Brel através de videos do YouTube faz algum tempo, um moco simpático de dentes salientes que cantava com muita, mas muita paixão mesmo, videos em preto e branco, videos nostálgicos de um tempo nunca vivido. É necessário dizer que o Jacques é belga e não francês como muita gente acredita, assim como as batatas fritas, pobre belgas, sempre pouco reconhecidos.
No centro da cidade encontrei a fundacão Jacques Brel e lá assisti a uma exposicão que falava exatamente sobre o amor do Jacques pelos belgas e pela Belgica, descobri que ele era um sarrista, na verdade, humor ímpar, a expo tinha uma montagem bem complexa e eu me perdi um pouco, mas me senti total entranado em outro mundo de novo, voltando no tempo, naqueles anos de nostalgia nunca vividos, valeu muito a pena. E agora eu também amo os belgas. hehe

10. Simon e Charlote

Simon e Charlote me hospedaram também, fui pra casa deles no sabado anoite, Simon é frances e Charlote é belga, Simon é irmão da amiga da minha amiga Annick (amo essa menina), que me passou os contatos, no meu desespero, acabei encontrando mais de um lugar pra ficar e decidi partilhar pra nao sobrecarregar nem um nem outro e assim conhecer mais pessoas geniais.
Infelizmente eu não os vi muito, eles estavam cheio de coisas pra fazer e eu tinha que ser turista hehe, mas mesmo assim, a hospitalidade deles ainda me deixa meio impressionada, nunca vi tanta bondade, a casa deles, que dividem com mais três amigos tem 4 andares e fica em Merode, eu dormi no quarto de uma das meninas que estava viajando, eles me disponibilaram mapas e guias, o computador e toda a cozinha, ficaram tristes por não poderem andarem comigo por aí e nos momentos que conversamos rimos aos montes, me convidaram para voltar quando quiser, e eu voltarei, mais que certeza...

...pois Bruxelas é um lugar que se deve voltar sempre, seja para andar em suas ruas estreitas,  ouvir todas as línguas faladas, comer goufres sem e com chocolate, aproveitar toda a multiculturalidade, rir dos turistas, se divertir com as excentricidades, sentir cheiro de doce a cada esquina, ver transito e ruas subidas de novo, enfim...amar.

Paro por aqui meu filme, as demais coisas não posso transmitir em imagens ou palavras...simplismente não posso.

Um comentário:

  1. Uhuuuuuuuu ... primeirão !!!! Falei que eu ia passar por aqui, sou demááááááááááááás ... haha !! Menina, que fantástica a sua viagem pela Bélgica. Fiquei imaginado vc em todos os lugares que vc mencionou. Realmente é uma experiência única. Adorei o seu texto, vc escreve divinamente !!! Grande beijo querida !!!!!! Miss u ... ;-)

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